Texto por Akira Nawa
O shibari, uma arte japonesa de amarração de corpos, é uma expressão cultural profunda que transcende a simples manipulação de cordas. Neste contexto, o “semenawa”, muitas vezes traduzido como “tortura com cordas”, emerge como uma prática enigmática. No entanto, esta tradução superficial não capta a essência multifacetada do semenawa, que é caracterizada por uma complexidade que vai além da dor física, adentrando o reino do psicológico e do emocional, neste artigo vamos navegar um pouco neste estilo de amarrar e descobrir o que é Semenawa.
O Semenawa no Ocidente e no Japão
A interpretação do semenawa no Ocidente frequentemente enfatiza a dor e o sofrimento físico, refletindo uma tendência cultural de associar a prática a formas de tortura medieval. No entanto, no Japão, o semenawa é visto sob uma luz diferente. Ele é entendido como uma prática que envolve não apenas dor, mas também a criação de uma atmosfera de desamparo e vulnerabilidade, onde a dor é apenas um dos muitos componentes.
Yukimura Haruki: Um dos grandes mestres do shibari.
Yukimura Haruki (1948 – 2016), um mestre reverenciado no mundo do shibari, deixou um legado de inestimável valor. Haruki compartilhou ensinamentos que desafiavam as concepções tradicionais de semenawa. Ele defendia que, em sua essência, o semenawa não deveria ser apenas sobre infligir dor, mas sim sobre criar uma experiência rica e multifacetada que equilibra o tormento físico com um intenso jogo psicológico.
Yukimura explorava os contrastes entre aibunawa, a “corda cariciosa”, e semenawa. Enquanto aibunawa envolvia uma abordagem mais suave e sensual, criando uma ilusão de controle e proteção, o semenawa adentrava um território mais intenso e desafiador. Yukimura acreditava que a verdadeira arte do semenawa residia na habilidade de alternar entre essas duas abordagens, envolvendo o parceiro em uma dança de emoções e sensações.
A maturidade traz uma nova perspectiva para a prática do semenawa. Com a experiência, o enfoque se desloca da exibição física para uma abordagem mais introspectiva e emocional. Praticantes mais experientes tendem a buscar uma intensidade emocional mais profunda, valorizando a intenção e o processo sobre a técnica pura. Essa maturidade permite explorar os limites pessoais e encontrar beleza na vulnerabilidade e na entrega.
Akira Naka e a Evolução do Semenawa
Akira Naka, outra figura proeminente no shibari contemporâneo, é conhecido por seu estilo único de semenawa. Ele enfatiza a importância da beleza, da conexão emocional e da jornada compartilhada entre a pessoa que amarra e a pessoa que é amarrada. Para Naka, o semenawa é mais do que infligir dor; é sobre criar uma experiência que fortalece o vínculo e a confiança mútua, levando ambos os parceiros além de seus limites habituais.
Fisicamente, esse estilo de amarrar é caracterizado por amarrações que são mais restritivas e apertadas, utilizando uma quantidade maior de corda. Mentalmente, cria um estado de desamparo e desesperança na pessoa amarrada. a pessoa que amarra não apenas molda o corpo com a corda, mas também cria um ambiente psicológico que amplifica a experiência na pessoa amarrada.
No semenawa, a experiência da pessoa amarrada é central. Diferentes modelos compartilham estratégias para lidar com as intensidades do semenawa, como a concentração na respiração, a entrega emocional e a busca de significado na dor e no desconforto. Para eles, o semenawa é uma jornada de autoconhecimento e expressão, onde a dor e o sofrimento podem ser transformados em beleza e força emocional.
Como uma dança complexa de poder e entrega. Enquanto a pessoa que amarra guia a experiência com a corda, a pessoa que é amarrada se entrega a essa jornada, abrindo-se para a vulnerabilidade e a transformação. Esta dinâmica cria um espaço onde ambos os parceiros podem explorar aspectos profundos de si mesmos e do outro, fortalecendo seu relacionamento e confiança mútua.
Uma Jornada Transformadora
O semenawa é uma prática que desafia, transforma e enriquece. Ele oferece uma experiência intensa que vai além da dor física, tomando forma como uma jornada emocional e espiritual. Através do semenawa, os participantes se conectam em um nível profundamente pessoal, explorando os limites da dor, do prazer e da expressão humana. Esta prática não é apenas uma técnica de amarração; é uma forma de arte que celebra a complexidade da experiência humana em suas formas mais cruas e autênticas.